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Edgar no Mundo Pensante
Edgar no Mundo Pensante

qui., 28 de jul.

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Bela Vista

Edgar no Mundo Pensante

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Horário e local

28 de jul. de 2022, 21:00

Bela Vista, R. Treze de Maio, 830 - Bela Vista, São Paulo - SP, 01327-000, Brasil

Sobre o evento

Maniçoba Poética Por Lulie Macedo Quando, em 2018, Edgar nos assombrava trazendo verdades como "o futuro é uma criança com medo de nós", nem em nossos piores pesadelos poderíamos imaginar o que nos aguardava. Pouco mais de um ano após a estreia do primoroso & premiado "Ultrassom" (2018/Deckdisc), o planeta seria varrido pela pandemia. Edgar nos apresenta agora <Ultraleve> (2021/Deckdisc), álbum que enfileira nove faixas produzidas mais uma vez pelo parceiro Pupillo Oliveira. "<Ultraleve> é uma maniçoba poética, demora mais de cinco dias no fogo da vaidade, com a panela cheia de água e empatia, cozinhando todos os sentimentos atravessados por um corpo negro em uma sociedade programada para o excluir e o matar", diz o multiartista no texto de apresentação do trabalho. Prato originário dos povos indígenas, maniçoba é a metáfora perfeita para as sensações que <Ultraleve> provoca, desde a primeira audição. Tal qual a maniva (folha da mandioca), cujo preparo pode levar até uma semana, <Ultraleve> requer calma e atenção. Assim como outras iguarias, não é no consumo rápido que se absorve suas propriedades: é um disco que exige ouvidos abertos e sistema digestivo preparado. As palavras de Edgar são acidez pura, abrasivas, deboche curtido em pH baixíssimo. Os beats e percussão de Pupillo acompanham esse cozimento, criando ambiências sonoras ora irônicas, ora melancólicas, mas sempre enérgicas. É bonito prestar atenção em como ele responde aos plot twists narrativos de Edgar, surpreendendo também na estrutura de cada faixa, criando transições inesperadas. É como se eles estivessem construindo a trilha sonora de um game distópico, subvertendo o passado do funk, desde Afrika Bambattaa, e desenhando paisagens que alternam climas de acordo com cada "fase" do jogo. Os materiais recicláveis que aparecem nas criações visuais de Edgar surgem em <Ultraleve> de outra maneira: objetos encontrados nas ruas de São Paulo por Edgar foram transformados em instrumentos e amplificados, adicionando efeitos às produções de Pupillo. Acho desnecessário teorizar sobre a lírica de Edgar --para cada um seus versos batem de um jeito, e que assim seja. Mas há um discurso oculto que vale botar reparo: <Ultraleve> diz muita coisa nas entrelinhas de seus feats: Kunumi MC rima em guarani na faixa "Que a natureza nos conduza", e a cantora canadense Elisapie, uma artista e ativista inuíte, participa em "A Procissão dos Clones" cantando em seu idioma nativo. Não, não sabemos o que eles estão cantando. Nem Edgar sabe. E essa falta, esse diálogo ausente, ou interrompido, é exatamente o que está por trás da escolha das participações. A ausência também tem o seu lugar no discurso de Edgar, e para isso também é preciso tempo, atenção e digestão. Eu avisei que levava tempo para a maniçoba ficar pronta. Aproveite!

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